preloader-matrix

Alexandre Künigel

 

Quem foi Alexandre Kunigel? Alexandre foi o bisavô do meu pai. Um Indiana Jones particular da família. Cresci ouvindo relatos de suas histórias, desbravando o sertão de Goiás e medicando o povo por essas terras. Meu tataravô foi médico nos sertões goianos, trabalhou em Curralinho (Itaberaí), Rio Bonito (Caiapônia), Jatahy (Jataí), Allemão (Palmeiras de Goiás), Rio Verde e Vila Boa de Goiás. Na antiga capital pouco se guardou da memória de sua presença. Alexandre Kunigel, o Médico-Allemão, após um século não é mais uma figura do imaginário coletivo vilaboense. Assim, revirou-se o baú da família Kunigel Cardoso d’Ávila para redescobrir a história desse homem e de sua família. Com ajuda dos relatos e traduções de Célia Coutinho Seixo de Britto e Deusdedit Kunigel Cardoso d ́Ávila (meu avô paterno), conseguiu-se preservar a história dos antepassados.

Alexandre nasceu Marzellus Alexander Johann Limmer-Künigel, ele foi um clínico austríaco-alemão que atuou no Estado de Goiás entre 1911 e 1918. O doutor nasceu em Viena, Áustria, aos 06 de Novembro de 1861. Foi casado em primeiras núpcias, teve quatro filhos e conheceu sua segunda esposa em Schönerstädt (Saxônia) em 1907. A segunda foi a paixão de sua vida: Elisabeth Maria Schütze-Künigel, nascida em Waldheim (Saxônia) aos 6 de Julho de 1884. Com Elisabeth, Alexandre teve uma única filha: nascida em Naumburg Saale (Saxônia) aos 5 de outubro de 1909, chamada Gertrudes (Gerta) Künigel d’Ávila.

Após o nascimento de Bisa Gertrudes, Alexandre, sua esposa Elisabeth e Wolff (o qual supõe-se que tenha sido sobrinho ou filho de Alexandre) decidiram vir ao Brasil. Não se sabe ao certo, os motivos que levaram a família sair da Saxônia, ao sul de Berlim, para Goiás. Apenas uma célebre frase de Coutinho encaminha alguma pista: “Seu destino final seria Goiás aquela região do Brasil que corresponderia, segundo supunha, ao norte do Texas (Estados Unidos), e onde poderia encontrar algumas plantas de seu interesse e que constituía a segunda parte do seu objetivo ao vir para cá. ” (BRITTO E KUNIGEL, 19XX).

A paixão pela medicina e botânica não devem ser os únicos motivos da mudança da Saxônia à Goiás. Sabe-se somente que Alexandre rompe com sua família, não restando cartas e registros de seus filhos ou familiares. Enquanto isso, Elisabeth continua o contato com sua família, mantido por Gertrudes, nos anos seguintes até a década de 1940. Wolff, o sobrinho-filho de Alexandre, já rapaz, retorna à Europa durante a Primeira Guerra Mundial e dele não houve mais notícias.

A viagem da família Künigel foi registrada por Alexandre e conhece-se o itinerário da saga da Alemanha ao Brasil. Os três viajantes e a bebê Gertrudes se despediram dos pais de Elisabeth e seguiram até Amsterdã, nos Países Baixos. Lá embarcaram no navio “Friesia” (Lloyd Holandês) com destino a Santos no Brasil em 1910. “O navio atravessou o Canal de Mancha e ancorou em Vigo (Espanha); daí seguiu até Lisboa (Portugal), fazendo-se após alto-mar.” (BRITTO E KUNIGEL, 19XX).

Em alto-mar, Elisabeth, já enfraquecida com o mal do mar, adoeceu, com reumatismo articular agudo. Alexandre inicia na viagem ao Brasil, uma espécie de prontuário médico de sua esposa, que só será encerrado em 12 de outubro de 1914, data do falecimento e enterro de Elisabeth no cemitério São Miguel em Goiás. Devido ao mal de Elisabeth, Alexandre decide desembarcar no Rio de Janeiro, não finalizando a viagem até Santos. Após alguns dias, embarcam de ferrovia até Uberaba e daí, seguem para a cidade de Goiás, então capital do estado, onde ainda no ano de 1910, fixa residência, dedicando-se logo à aprendizagem da língua portuguesa.

Alexandre logo adquire uma chácara à margem direita do Rio Bacalhau, mas há informações de um segundo endereço do médico em Goiás na Rua D’Abadia. Nessa localidade, o clínico cadastrou sua licença de venda de ervas e tabaco, conforme o Jornal XYZ. Nos pertences familiares, não há relato de sua atuação no Hospital de Caridade. Porém, encontrou-se vários recibos de Licenças para clinicar e atuar como médico em municipalidades goianas. Também, encontrou-se a preocupação de Alexandre em firma-se como cirurgião ao reconhecer em cartório, firma e relatos de pacientes satisfeitos com seus serviços. Dentre as cartas de recomendações foram encontrados relatos de Dom Prudêncio Gomes da Silva – Bispo de Goyaz, do Cura da Cathedral Joaquim Confúcio de Amorim e de Padre Vidal.

Além de autoridades eclesiásticas, Alexandre clinicou autoridades civis e expoentes econômicos das cidades que atuou, como a família Nasser, em Rio Bonito. O médico manteve boas relações com vários imigrantes e suas famílias. Além dos Nasser, mantinha contato com alemães nas cidades de Jataí e Palmeiras de Goiás, sem levar em conta viajantes e desbravadores esporádicos. Dessa atitude, existe uma elucidação de sua atuação no recorte do Jornal Estado de Goyaz, aos 13 de Fevereiro de 1913:

“ (…) distincto clínico Dr. Kunigel, que é ao mesmo tempo um cavalheiro
distincto, amigo do progresso e que tem em convergência seus esforços no
sentido de colaborar comnosco na grande obra de povoamento dos nossos
sertões, attrahindo a colônia allemã, á qual tantos melhoramentos deve o sul
do Brazil” (ESTADO DE GOYAZ, 1913)

Deste modo, Alexandre apesar da pouca permanência em cada cidade goiana, foi criando vínculos com o povo goiano e principalmente vilaboense, cidade na qual escolheu por residir. Com a morte de sua esposa em 1914, passa a ficar mais tempo nos sertões goianos, tratando comerciantes locais e fazendo algumas filantropias. Dr. Kunigel falece aos 23 de Janeiro de 1918, em Rio Bonito, hoje Caiapônia – GO. Deixando sua filha órfã com 9 anos e sem nenhum parente vivo no Brasil.

Portanto, Gertrudes passa a ser criado pela família Nasser até se casar com Sebastião Cardoso d’Ávila. O vilaboense Sebastião auxilia sua esposa a manter contato com seus parentes na Europa até meados da Segunda Guerra quando estes param de corresponder com Gertrudes. Antes, porém, em suas últimas cartas, sua tia na Alemanha envia uma foto de seu pai e outra dela com sua mãe, recordando-a do afeto deles por ela.

Texto: Pedro Henrique Gomes Cardoso d’Ávila – Arquiteto e urbanista, Mestre em Projeto e Cidade, filho de Deusdedit Kunigel Cardoso d ́Ávila Júnior, neto de Deusdedit Kunigel Cardoso d ́Ávila e bisneto do vilaboense Sebastião Cardoso d’Ávila e da alemã Gertrudes Kunigel d’Ávila.

Fontes:
BRITTO, Célia Coutinho Seixo de. [Correspondência]. Destinatário: Deusdedit Kunigel Cardoso d ́Ávila. Goiânia, 19XX. Cartão pessoal.D’ÁVILA, Deusdedit Kunigel Cardoso. [Correspondência]. Destinatário: Célia Coutinho Seixo de Britto. Goiânia, 19XX. Cartão pessoal.
Jornal Estado de Goyaz, Cidade de Goiás, aos 13 de Fevereiro de 1913.

 


 

 

Clique e confira:

Veja também

EXPOSIÇÃO

EXPOSIÇÃO

Pular para o conteúdo