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Hugo de Carvalho Ramos

 

Nascido no dia 21 de maio de 1895 às 22h em residência situada na praça Primeiro de Junho (Praça do Chafariz) na cidade de Goiás, antiga capital do Estado de Goyaz, Hugo Juvenal Ramos, como consta em registro do Cartório Civil e Tabelionato de Notas de Goyaz que transcrevemos:

 

“Aos vinte e três dias do mês de maio, de mil oitocentos e noventa e cinco, neste Districtal de Sant’Anna da Capital de Goyaz, em meo cartório do juiso Districtal, compareceu o cidadão Dr. Manuel Lopes de Carvalho Ramos, Juís de Direito desta Capital, e em presença das testemunhas abaixo assignadas declaram que, no dia vinte e um do corrente mes pelas des horas da noite, em casa de sua residência à Praça Primeiro de Junho, nasceu uma criança do sexo masculino que se chamará Hugo Juvenal Ramos que é filho legítimo do declarante e de sua mulher Dona Marianna de Loyola Ramos, casados neste Districto (…)”

 

Hugo nasceu e cresceu em um ambiente familiar de literatas: seu avô paterno, Antônio Lopes de Carvalho Sobrinho, nascido na Vila de Santo Antônio de Jacobina (BA), era poeta e chegou a publicar em 1863, “Horas vagas”, além de ter deixado uma obra inédita “Álbum do meu Silêncio”. Seguindo os passos de Antônio, seu filho Manuel Lopes de Carvalho Ramos (pai de Hugo), também era poeta, nascido na Vila de Cachoeira, em 1865.

Manuel Lopes era juiz e, ao assumir a comarca de Goyaz, casa-se com a jovem de família tradicional, Marianna de Loyola. O ano de nascimento de Hugo – 1895 – é marcado pela publicação do livro de Manuel Lopes: “Os Gênios”. Publicado pela TYP DE ARTHUR JOSÉ DE SOUZA & IRMÃO – Porto, Portugal, a obra trazia entre os biografados Victor Hugo, autor de “Os Miseráveis”, que viria a emprestar o nome tanto ao primogênito de Manuel, Victor, quanto a seu segundo filho, Hugo.

Tendo seu pai como uma das principais referências e incentivadores das leituras desses gênios e diversos autores nacionais, Hugo desde os seis anos era frequentador assíduo do Gabinete Literário Goyano. Teve como sua primeira professora: Silvina Ermelinda Xavier de Brito (Mestra Silvina), sendo colega no curso primário de Ana Lins dos Guimarães Peixoto (Cora Coralina).

Mais tarde, Hugo foi para o Lyceu de Goyaz, mas não se prendia aos estudos – se encantava mais com as viagens a cavalo com seu pai pela comarca de Goyaz. Momentos em que vivenciou o sertão goiano de dentro, ao dormir em pousos de tropeiros e carreiros de bois, ouvindo e anotando histórias e estórias, guardando em si a essência do sertanejo e sua luta pela sobrevivência. Esta experiência foi transformada em contos e publicada no final de fevereiro de 1917 pela Revista dos Tribunais, no Rio de Janeiro, sob o título de “Tropas e Boiadas”. Hugo tinha apenas vinte e um anos de idade e este seu único livro, uma das maiores obras regionalistas brasileiras, veio a influenciar João Guimarães Rosa, Bernardo Élis, encantando Mario de Andrade e Lima Barreto que afirma: “Eu li e o achei de tão raro merecimento como estudo de uma feição da nossa pátria que não o julguei capaz de ter sido feito por autor tão moço. Soube-o mais tarde e mais admirei a obra”.

Hugo ficou em Goiás até o ano de 1912 para finalizar o Lyceu; seus pais já haviam se mudado para a então capital Federal, Rio de Janeiro, devido a problemas de saúde de seu pai Manuel Lopes. A notícia do falecimento de seu pai em 1911 marcou e mudou a personalidade de Hugo para sempre: de um menino alegre e extrovertido ele passa a ser introspectivo, triste e solitário. Assim, os jovens de sua idade passam achá-lo estranho, como ele narra em carta a irmã Nenê (Ermelinda de Carvalho Ramos), datada de 24 de outubro de 1911:

 

“E porque eu não sigo êsses hábitos, e porque eu não flano por essas ruas, e porque eu não possuo namoradas, e porque eu não vou a espetáculos, e porque eu gosto da solidão, eis que eu sou idiota, tolo, esquisito, fenomenal, estranho, enigmático, neurastênico, mentecapto, sandeu, doido varrido…”

 

Hugo tinha como melhor amigo o irmão mais velho Victor de Carvalho Ramos, advogado e escritor, que se casou e mudou para Uberaba (MG). Hugo ficou no Rio, em uma casa com os outros três irmãos: Ermelinda, Américo e o caçula Ary de Carvalho Ramos – moravam em uma casa ao lado da casa da mãe, Mariana, que casou-se novamente e teve mais dois filhos com o vilaboense João Câncio Povoa, professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro.

Hugo comunicava-se com intelectuais do Rio de Janeiro apenas por cartas, sendo convidado diversas vezes para juntar-se a eles, entretanto não conseguiu vencer a depressão e abateu-se pela falta de seu pai, por ter deixado Goiás, passando horas fumando na janela e olhando a movimentação da rua – o bonde, os transeuntes que como ele não pertenciam àquele lugar ou a nenhum outro. Em cartas, afirmava: “E o Rio se me afigura ao invés do almejado Paraíso, as sombrias profundidades dos infernos dantescos”.

Hugo escreveu uma nova obra que, em 12 de maio de 1921, foi reduzida a cinzas, antes dele por fim à sua própria vida, utilizando a rede em que dormia. Hugo nos legou uma das maiores obras regionalista do país, segundo o poeta e crítico literário Gilberto Mendonça Teles, que identifica o escritor como “renovador da prosa regionalista brasileira.”

Hugo de Carvalho Ramos é o sertão de Goyaz, e para encontrá-lo basta percorrer o cerrado e chapadas, lá provavelmente sebencontrará “legivelmente o meu nome num tronco novo de jenipapeiro que fica junto à casa do teu agregado (se é que ainda o manténs), próximo a umas goiabeiras, e aí talhado por mim a última vez que lá estive.” Assim nos confidencia Hugo em seu Tropas e Boiadas.

Para não deixar a memória do irmão se apagar, Victor, que recebe da mãe um baú com o que sobrou dos escritos, fotos e cartas de Hugo, passou a reeditar sua obra e em cada edição na apresentação ele ia descrevendo o irmão, até publicar todas as cartas, bilhetes e os poucos poemas sob o título de Plangências (Obras Completas), pela Companhia Editora Panorama, 1950.

Anos após a morte de Hugo, Victor volta à cidade de Goiás e visita a antiga casa na rua 13 de Maio, da avó “Mãi -Chi”, onde Hugo ficou morando após a família ter se mudado para o Rio. Ao chegar à casa, ele descreve:

 

“De um lado, sôbre um dos portais, gravadas a canivete, as iniciais evocadoras – H.R. – que me sacudiram numa crise de choro. Hugo! A’ só leitura dêste nome, que de recordações lancinantes! Via-o ali…”

 

 

Texto: Lázaro Ribeiro
Pesquisa: Jadson Borges/Lázaro Ribeiro

Referências Bibliográficas:
A INFORMAÇÃO GOYANA. Revista mensal, ilustrada e informativa das possibilidades econômicas do Brasil Central. Rio de Janeiro: V.4, n.10, Anno V, meio de 1921.
RAMOS, Hugo de Carvalho. Plangências (Vol.II das Obras Completas). São Paulo: Panorama, 1950.
RAMOS, Vitor de Carvalho. Mãi-Chi. Porto Alegre: Oficinas Gráficas da Livraria do Globo, 1929.
TELES, Gilberto Mendonça. O conto Brasileiro em Goiás. 2.ed. Goiânia: Ed. UCG, 2007.

 


 

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