preloader-matrix

Regina Lacerda

 

Regina Lacerda nasceu na Cidade de Goiás, na Rua Bartolomeu Bueno, no 35, antiga rua da Cambaúba, no dia 25 de junho de 1919, filha de Zenóbia Santa Cruz Camargo Lacerda e Umbelino Galvão de Moura Lacerda.

Era uma mulher atuante no cenário cultural na Cidade de Goiás, ganhando reconhecimento nacional como folclorista e escritora. Apaixonada pela sua terra natal Regina rememora infância e juventude no texto autobiográfico: “Falando de mim”:

“À beira do Rio Vermelho, no caminho da Carioca, nasci e lá mesmo me criei ou me criaram. Esse foi meu rio. Rio que não era para ser visto e ouvido apenas. Nas suas águas eu era peixe assim como era pássaro nas ramas das árvores que o margeiavam. Dependendo da hora eu era piaba ou andorinha. Naquela cidade vivi as alegrias da infância, os sonhos da adolescência e lá mesmo enterrei as primeiras ilusões.”

Formou-se professora na Escola Normal Oficial de Goyaz em 1935 e lecionou no Jardim de Infância e no Ginásio Estadual.

Vila Boa foi tema para seus versos, pesquisas e inspiração para seus desenhos e pinturas. Regina adorava desenhar/pintar ao ar livre com seus amigos artistas: Goiandira de Couto, Octo Marques e Ipiranga Curado.

As temáticas que esta artista plástica/poeta/folclorista retratava estavam sempre ligadas ao cotidiano da antiga Goiás, como podemos ler no seu famoso poema “Cantilenas da Cidade”:

 

À tardinha
(à hora do doce)
a criançada,
recebe
alvoroçada,
com palmas e gritos,
a mais bela toada:
“—Alfinim …. pirulito….”
A lua
encontra essa garotada
lambuzada,
no meio da rua,
no meio das gentes,
cantando cirandas,
debaixo dos postes,
com a velha canção
que é toda um carinho:
“— Menina, toma esta uva.
Da uva se faz o vinho.
Teus braços serão gaiola
eu serei teu canarinho”.
E os seresteiros, meu Deus,
como são sonhadores…
Vão bebendo,
vão cantando…
(Como és feliz, trovador).
Um acorde ao violão
Tim-tim-bão…
E o coração chora:
“Tão meigas, tão claras,
tão belas, tão puras
as noites de cá…”

Nas noites vilaboenses, durante os anos de 1945 a 1947, Regina, como presidente do Goiás Clube, organizava bailes e sessões litero-musicais, nesse espaço multicultural que foi criado e administrado por moças e senhoras da sociedade vilaboense.

Em 1949, mudou-se para a nova capital, Goiânia. Além de lecionar, Regina Lacerda também passou a fazer parte de diversas instituições: 1952 – Membra da Comissão Goiana de Folclore na gestão de Cônego Trindade; Juntamente com Luiz Augusto e Frei Confaloni, colabora com a criação da Escola Goiana de Belas Artes (EGBA); 1954 – torna-se membra da Associação Goiana de Imprensa. No mesmo ano seu nome é incluído no dicionário FOLCLORISTAS DEL MONDO, de Félix Coluccio. 1956 – Participa da criação do grupo literário “Os Quinze”; 1957 – Entra para a Associação Brasileira de Escritores (ABDE, hoje União Brasileira de Escritores (UBE); 1959 – Colabora para a fundação da Aliança Francesa em Goiânia; 1964 – Apresenta projeto junto à Secretaria da Educação e Cultura de Goiás para criação do Instituto Goiano de Folclore; 1970 – Toma Posse no dia 09 de novembro na Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, ocupando a cadeira no 35; 1972 – Torna-se Membra do Conselho Estadual de Cultura; 1973 – Toma posse na Academia Goiana de Letras, no dia 29 de junho, ocupando a cadeira n.16; 1977 – Assume a presidência da Comissão Goiana de Folclore (CGF); 1978 – Torna-se sócia titular do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás.

Entre as diversas participações em congressos nacionais e internacionais, eventos culturais, entregas de comendas, ressaltamos o momento em que Regina Lacerda entregou em mãos à sua conterrânea, Cora Coralina, na cidade de Goiás, no dia 23 de outubro de 1981 o recém criado “Troféu

Jaburu”. Trata-se da maior honraria atribuída a um artista ou instituição cultural goiana que se destacou no ano, por meio de votação do Conselho Estadual de Cultura. Cora Coralina foi a primeira personalidade a ser agraciada com o Troféu.

Outra passagem que merece destaque de Regina Lacerda com Cora Coralina foi o discurso da folclorista em recepção à poeta na Cerimônia de sua posse na Academia Goiana de Letras, no dia 06 de dezembro de 1984. Cora Coralina, com seus 95 anos, assumiu a cadeira 38. Emotiva, Regina discursa:

“Seja bem vinda a esta casa Cora Coralina.
Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas. Orgulho da nossa terra e da nossa gente.
Saiba, Cora, que me senti muito honrada com a decisão do nosso Presidente Ursulino Leão
em me designando para saudá-la neste dia…”

A obra histórica e literária de Regia Lacerda é admirável:
Pitangas (1954 -poesias), Vila Boa, folclore (1957), Cerâmica Popular (Monografia-1957), Histórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso (1960), Papa-Ceia (1968), Cidade de Goiás/Berço da Cultura Goiana (Conferência-1968), A Independência de Goiás (História-1970), Henrique Silva/General das Letras Goianas (Biografia-1973), Antecedentes e repercussões da Independência de Goiás (1973), Folclore Brasileiro – Goiás (1977), Cantigas e Cantares (Músicas folclóricas – 1978), História que o homem de bronze contou (1981).

Regina Lacerda é hoje referência quando falamos de folclore, e ao longo de sua vida recebeu diversas honrarias em reconhecimento por todo seu cuidado e trabalho prestado para salvaguarda e valorização do Patrimônio do Estado de Goiás:
Prêmio Vicente Miguel da Academia Goiana de Letras (AGL – 1957), Medalha Rondon da Sociedade Geográfica Brasileira (São Paulo -1958), Medalha de Honra ao Mérito da Organização Jaime Câmara (1971), Medalha Marechal Rondon da Sociedade Geográfica Brasileira, em homenagem a seu pai, Umbelino Galvão de Moura Lacerda (São Paulo -1974), Prêmio Tiokô da União Brasileira de Escritores (UBE –Goiás, 1979), Diploma de Honra ao Mérito do Conselho Estadual de Cultura (1983), Medalha de Honra ao Mérito do Clube Soroptimista de Goiãnia (1984), Diploma da UBE-GO por sua atuação na literatura brasileira feita em Goiás (1986), Medalha Rodrigo de Melo Franco de Andrade concedido pela Secretaria de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN -1987), Medalha da Ordem ao Mérito Pedro Ludovico Teixeira – Grau de Oficial (1989), Título de Pioneira da Prefeitura Municipal de Goiânia (1991), Diploma de Mérito da Goianidade, concedido pela Associação Goiana de Imprensa (AGI – 1992). E no dia 26 de janeiro de 1993 a Fundação Cultural Pedro Ludovico inaugura no Museu Estadual professor Zoroastro Artiaga a Sala Regina Lacerda como uma homenagem Póstuma, abrigando o seu acervo pessoal doado pela sua família.

Regina Lacerda faleceu em Goiânia no dia 14 de dezembro de 1992, aos 73 anos de idade. Sua relevância e atuação cultural, vida e obra fazem parte da memória dos vilaboenses e de uma antiga Vila que sempre a encantou, como descreve ela ao receber a medalha Rodrigo Melo Franco de Andrade em 16 de outubro de 1987:

(…) “circundada pela minha querida serra e morros sempre verdes, ao som das cantigas
das cigarras, com o calor de outubro, esse calor que me jogou, desde criança, nas águas do meu
Rio Vermelho, cercada de amigos e conterrâneos, é motivo, para mim de mais grata satisfação.”

 

Texto/pesquisa: Jadson Borges e Lázaro Ribeiro
Referências Bibliográficas: TELES, Mendonça. Dicionário do Escritor Goiano. 4a ed. Goiânia: Kelps, 2011.
RE/VENDO Regina Lacerda (Fotobiografia) Museu da Imagem e Som de Goiás/ AGEPEL – Agência Goiana de Cultura / Governo de Goiás, 2003.
Acervo MUBAM (Museu das Bandeiras) IBRAM/Governo Federal
Acervo Museu Goiano Zoroastro Artiaga


 

Clique e confira:

Veja também

EXPOSIÇÃO

EXPOSIÇÃO

Pular para o conteúdo